Buscas seguiram durante a madrugada de hoje. Equipes de resgate ainda acreditam em achar sobreviventes
Rio de Janeiro. A Prefeitura do Rio confirmou na noite de ontem o número de cinco mortos e 21 pessoas desaparecidas após o desabamento de três prédios no centro da cidade. O acidente ocorrido na noite da última quarta-feira ainda deixou seis pessoas feridas.
Os números foram contabilizados até o fechamento desta edição. As buscas seguiam sendo realizadas pelos bombeiros, com ajuda de cães farejadores.
Entre os mortos estão o porteiro Cornélio Ribeiro Lopes, 73, o funcionário de uma empresa de contabilidade Celso Renato Braga Cabral, 44, o catador de papelão Moises Moraes da Silva (idade não revelada), e duas mulheres ainda não identificadas.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirmou ontem que a hipótese de os desabamentos terem sido causado por uma explosão é "improvável". A principal hipótese considerada até o momento é de problema na estrutura de um dos prédios.
"Provavelmente, houve uma falha estrutural do prédio maior - de 20 andares - que levou ao desabamento dos outros dois prédios menores - de dez e quatro andares", afirmou o prefeito. Ele acrescentou que a resposta definitiva sobre as causas do acidente será dada pela perícia.
Os três prédios localizados ao lado do Theatro Municipal desabaram por volta das 20h30. O teatro não foi atingido, mas seu anexo, onde funciona a bilheteria, sofreu danos.
Dilma
Ontem pela manhã, a presidente Dilma Rousseff, que estava em Porto Alegre para o Fórum Social Temático, falou por telefone com o governador Sérgio Cabral e com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, oferecendo apoio do governo federal para os trabalhos de socorro às vítimas.
Dilma também prestou solidariedade às famílias das vítimas e aos sobreviventes do tragédia. A presidente cancelou sua ida ao Rio, marcada para hoje, quando participaria da inauguração da ponte ligando o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) à Linha Vermelha.
Em relação aos trabalhos de resgate, o tenente-coronel Julio César Mafia, oficial de dia do Quartel de Operações com Cães da Polícia Militar, acreditava haver possibilidade de encontrar sobreviventes nos escombros dos três prédios.
Segundo ele, as vítimas podem conseguir sobreviver em bolsões de ar que se formam nesse tipo de acidente. Ele comparou o caso ao desabamento das torres do World Trade Center, em Nova York, em 2001. O oficial lembrou que foram encontrados sobreviventes dias depois do colapso dos edifícios.
Celulares
Na noite da quarta-feira, pessoas que estavam em um edifício vizinho aos desabamentos usaram a luz dos telefones celulares para chamar a atenção dos bombeiros e buscar socorro. Com as escadas cheias de escombros, não havia como sair. Um grupo de 30 pessoas foi resgatado.
Já Alexandro da Silva Fonseca Santos, 31, estava dentro do elevador do prédio maior. "Não sei como tive discernimento de voltar para o elevador. Foi o que me salvou", recorda.
Alexandro não sofreu ferimentos. "Estava no térreo. Peguei um material para subir para o nono. Quando a porta abriu, vi o prédio se esfacelando e voltei para o elevador. Ele despencou, de porta aberta. Aí parou entre o 4º e 3º andar". Ele foi resgatado pelos bombeiros após falar com um compadre pelo celular.
LUTO
3 dias será o período de luto oficial no Rio. O decreto será publicado hoje no Diário Oficial do Município, por ordem do prefeito Eduardo Paes.
Imprensa internacional cita Copa e Olimpíadas
Rio de Janeiro. Os jornais internacionais destacaram ontem o desabamento de três prédios no centro do Rio, destacando o fato de que a cidade será sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Em reportagem sobre o caso, o "The Wall Street Journal" afirma que a tragédia chama a atenção "para a infraestrutura caindo aos pedaços da cidade que se prepara para abrigar dois eventos esportivos internacionais": "Os aeroportos, avenidas e outras infraestruturas da cidade estão envelhecidos, e sofreram com a falta de cuidados durante as décadas de fraco crescimento econômico. As autoridades esperam que, com os eventos esportivos e o ´boom´ da economia, possam dar uma revitalizada na cidade litorânea", diz o jornal.
O "site" internacional da "BBC" mostrou preocupação pelo "estado da infraestrutura do Rio, enquanto o Brasil se prepara para receber dois eventos esportivos de grande porte".
Durante todo o dia, a rede de TV americana "CNN" exibiu imagens do desabamento. Em seu site, a "CNN" mencionava que "o acidente ocorreu em um período delicado para o Rio de Janeiro, que se prepara para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos, dois anos depois".
O "El País", da Espanha, o argentino "Clarín", o italiano "Corriere Della Sera", o francês "Le Monde", o americano "NY Times" e a "Al Jazeera", do Qatar, também trataram da tragédia.
Obras não tinham registro
Rio de Janeiro. As obras realizadas no 3º e no 9º andares do Edifício Liberdade, o mais alto que desabou no Centro do Rio na quarta-feira, não tinham registro obrigatório no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea).
O engenheiro Luiz Antônio Cosenza, presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea, solicitou à empresa Tecnologia Organizacional (TO), responsável pelas obras, segundo ele, irregulares, informações sobre os engenheiros responsáveis.
A TO tinha sala em seis dos 20 andares do primeiro prédio a ruir. Segundo investigações, no terceiro andar todas as paredes haviam sido retiradas.
O advogado da empresa, Jorge Willians Soares, estava desde o início da noite de ontem na Polícia Civil em busca de acesso ao inquérito sobre o desabamento do edifício.
Soares diz que está com procuração de cinco diretores da empresa. Ele nega que as obras sejam estruturais, e sim de reformas. A empresa teria contratado um engenheiro e um arquiteto para monitorar os trabalhos.
No fim da tarde, a empresa publicou em seu site um comunicado em que lamenta "as perdas constatadas até este momento" e prestava solidariedade.
Segundo a empresária Teresa Andrade, proprietária de um escritório no 16º andar do mesmo prédio, "por vezes, quando o elevador parava no terceiro andar, dava para ver que não havia mais paredes nem pilastras".
"Isto provocava uma grande estranheza em mim e no meu sócio, mas essa preocupação não foi levada ao síndico", concluiu, acrescentando que os trabalhos começaram há cerca de seis meses.
O último registro de obra registrada no prédio de número 44 da Avenida 13 de Maio é de 2008. O Clube de Engenharia criou comissão para avaliar as causas da tragédia.
Vinculadas as fontes:
Camera registra desabamento de predio RJ
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1098610