Os radioamadores continuam desempenhando muito bem seu papel de pesquisar novas fronteiras tecnológicas nas comunicação via ondas de rádio. Abaixo, texto divulgado pela LABRE sobre as novas conquistas dos radioamadores (inclusive com decisiva participação de brasileiros) nas ondas médias.
CONFERÊNCIA EM GENEBRA CONFIRMA SUCESSO DE PESQUISAS AMADORAS
O Serviço de Radioamador conquistou na última terça-feira, dia 14 de fevereiro de 2012, nova alocação no espectro das Frequências Médias (MF) entre 472 e 479 kHz em base secundária. A decisão ocorreu na Conferência Mundial de Rádio (WRC-12) da União Internacional das Telecomunicações (UIT) em Genebra, Suíça.
O radioamadorismo é um hobby científico sem fins lucrativos que visa a educação tecnológica em telecomunicações e geofísica, a realização de atividades experimentais, o desenvolvimento de redes comunicacionais autônomas e o auxílio às comunicações emergenciais. É um dos mais tradicionais serviços de telecomunicações do mundo e está presente em várias faixas do VLF ao EHF .
INÍCIO EXPERIMENTAL
Em setembro de 2006 a Liga Americana de Rádio (ARRL) obteve da Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC) a licença experimental WD2XSD dentro da norma Part 5 para realização de testes entre 505 e 510 kHz utilizando modos de banda estreita e potências de até 20 W ERP em 23 diferentes estações do grupoARRL 600 meters Experiment liderados por Fritz Raab, W1FR.
Em 2008 a FCC expandiu o intervalo de frequências para 495 – 510 kHz, aumentou o número de estações para 42 e permitiu operações portáteis dentro de um raio de 50 km no entorno das instalações fixas registradas.
Raab comentou que “as mais de 100.000 horas de log enviados pelos participantes demonstraram que os radioamadores poderiam utilizar estas freqüências sem causar interferências a outros serviços”.
Imagens 3, 4 e 5: Ralph Hartwell, W5JGV, foi um dos radioamadores que participaram das experiências em 600 m com a estação WD2XSH/7 na Lousiana, EUA. Na Img. 3 (esq.) foto da antena vertical de 22 m de comprimento e 15 cm de diâmetro, chapéu capacitivo e anéis anti-corona. Na Img. 4 (centro) a caixa de ressonância protegida ao lado da vertical isolada, com variômetro +- 30 uHy habilitando operação entre 495 e 508,9 kHz. Na Img. 5 (dir.) Ralph aparece ao lado de parte dos equipamentos, com lineares intermediários e finais de estado sólido e construção caseira, 300 a 800 W PEP. A potência é ajustada com o rendimento da antena para obter uma EIRP dentro do especificado pela FCC. Os excitadores são Flex-5000 A e FT-747GX em PSK-31, CW, QRSS, WSPR. (Fotos: W5JGV e ARRL 600 m Experiment)
No Brasil o radioamador Giocondo Romanini, PY2CDS, foi o precursor na mobilização pela atribuição legal e prática experimental nos 500 kHz desde 2008. A primeira estação experimental radioamadora captada na banda dos 600 metros no Brasil foi WE2XGR/6 (Penn Yan, NY, EUA) em 507,25 kHz CW,monitorada por Flávio Archangelo, PT7/PY2ZX na estação de concursos do Fortaleza DX Group (FORDX) em Eusébio, Ceará, dia 10 de dezembro de 2010, perfazendo 6860 km.
O recorde de distância nesta fase experimental foi a escuta da estação WD2XSH/6 (Long Beach, EUA) por Neil Schwanitz, V73NS/WB8CRT em Roi-Namur, Ilhas Marshall: 10748 km. Ao todo outros 15 países estiveram envolvidos nos testes dos radioamadores.
A frequência de 500 kHz é uma das mais tradicionais do mundo. Por ela trafegaram desde 1912 chamadas emergenciais da marinha em Código Morse. A partir da década de 1990 os alertas marítimos são emitidos em NAVTEX e GMDSS em MF. Alguns países realizam comunicações utilitárias, militares e amadoras em frequências ainda mais baixas, como por volta dos 8 kHz no espectro de VLF (Very Low Frequencies).
NEGOCIAÇÕES NA CONFERÊNCIA
A União Internacional dos Radioamadores (IARU) trabalhou com dois projetos no chamado "item 1.23" da agenda WRC-12, que tratou da nova banda dos 600 metros. A primeira tese foi defendida por Jon Siverling, WB3ERA, pela Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL). Ela englobou dois segmentos num total de 15 kHz de banda: 461-469 kHz e 471-478 kHz. A segunda foi defendida por Colin Thomas, G3PSM, pela Conferência Europeia das Administrações de Correios e Telecomunicações (CEPT), abrangendo 8 kHz de banda entre 472 e 480 kHz.
Além da CITEL e CEPT, várias instituições como a ATU (African Telecommunications Union), EAC (East African Community), APT (Asia-Pacific Telecommunity) e SADC (South African Development Community) apoiaram os radioamadores. No entanto a representação russa através da RCC(Regional Commonwealth in the Field of Communications), representantes dos estados árabes, China, Irã e a Organização Marítima Internacional (IMOIMO) estabeleceram a oposição.
A exclusividade para o Serviço Móvel Marítimo (MMS) e navegação aérea (NDB) em algumas porções espectrais e países restringiram uma ocupação mais extensa com potências maiores. “Esta foi a razão pelo qual a nova alocação não pode ser feita como alguns radioamadores esperavam” explicou David Summer, K1ZZ, Diretor Executivo da ARRL.
Desta maneira uma alocação próxima da proposta CEPT ganhou força, considerando o segmento de 472 a 479 kHz. As resistências foram menores e houve indicações por aprovação pelas administrações e organizações regionais. Foi justamente o que ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2012 em plenária. As notas de rodapé estabeleceram as restrições:
- Radioamadorismo nesta faixa é serviço secundário (condição já prevista até mesmo nas propostas originais da IARU);
- Potência limitada a 1 W EIRP ou 5 W EIRP para as estações a mais de 800 km distantes dos países que manifestaram proteção espectral, a saber: Argélia, Arábia Saudita, Azerbaijão, Bahrain, Bielorussia, China, Comoros, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Rússia, Irã, Iraque, Jordânia, Cazaquistão, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Uzbequistão, Qatar, Síria, Quirguistão, Somália, Sudão, Tunísia, Ucrânia e Iêmen;
- Alguns países limitaram a faixa apenas para MMS e NDBs, o que nacionalmente poderá significar proibição dos radioamadores na nova faixa. São eles: Argélia, Arábia Saudita, Azerbaijão, Bahrain, Bielorussia, China, Comoros, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Rússia, Iraque, Jordânia, Cazaquistão, Kuwait, Líbano, Líbia, Mauritânia, Oman, Uzbequistão, Qatar, Síria, Quirguistão, Somália, Sudão, Tunísia e Iêmen.
Em qualquer situação os radioamadores não poderão causar interferências nos serviços primários do segmento. Para a alocação tornar-se efetiva, as administrações nacionais precisam atualizar seus respectivos planos de bandas com as modificações propostas na WRC-12. Portanto nenhuma emissão deve ser iniciada sem o reconhecimento e permissão das administrações nacionais. No Brasil a ANATEL é a responsável pelo gerenciamento espectral e o PDFF é a referência para as alocações, atribuições e distribuições de faixas, além dos regulamentos específicos.
Mesmo com as restrições, o presidente da IARU, Timothy S. Ellam, VE6SH, declarou: “Esta é uma grande conquista para o Serviço de Radioamador. Uma nova alocação espectral é algo que devemos comemorar. O sucesso desta ação foi resultado de um trabalho duro de pelo menos 4 anos dos nossos representantes e voluntários nas associações nacionais de rádio. Eles labutaram junto com as respectivas administrações nacionais. Foi um excelente trabalho das equipes em Genebra e as locais que nos apoiaram em seus países”.
A IARU contou na WRC-12 com a participação do Presidente, Timothy Ellam, VE6SH; Vice-Presidente, Ole Garpestad, LA2RR; Secretário, Rod Stafford, W6ROD; Presidente da Região 1, Hans Blondeel Timmerman, PB2T; Presidente da Região 2, Reinaldo Leandro, YV5AM; Especialista em Relações Técnicas, Ken Pulfer, VE3PU e o Diretor Executivo da ARRL, David Sumner, K1ZZ. O Diretor de Tecnologia da ARRL, Brennan Price, N4QX e Jon Siverling, WB3ERA, acompanharam as reuniões como membros da delegação estadunidense. Price foi Chairman do subcomitê do Item 1.23. Bryan Rawlins, VE3QN, representante daRAC, também seguiu junto a delegação canadense. Muitos outros radioamadores atuaram profissionalmente em suas delegações nacionais ou a serviço da própria UIT.
SOBRE A IARU E LABRE
A IARU foi fundada em Paris em 1925 com objetivo de representar internacionalmente os radioamadores. Ela é composta pelas associações nacionais de rádio, que por sua vez representam os radioamadores perante os governos locais. No Brasil esta função é exercida pela LABRE, a Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão, entidade membro da IARU. Fundada em 1934 como fusão de associações congêneres originadas desde 1926, a LABRE é uma das mais tradicionais entidades a representar um setor civil das telecomunicações no Brasil.
Com assessorias da IARU e ITU. LABRE Release 2012-01-EE 21 de fevereiro de 2012.
Fonte: LABRE.